A frase de Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) cunhada no seu poema “Versos Íntimos” cai como uma “luva” no momento pelo qual está passando o estado do Rio de Janeiro. Depois de atirarem bombas e tiros nos colegas, mulheres e crianças que tomaram o pátio do Quartel Central do Corpo de Bombeiros na última semana, culminando inclusive com o aborto de uma das mulheres dos manifestantes, Policiais Militares resolveram aderir aos grevistas em prol da mesma reivindicação, o aumento salarial. Agora, além dos pedidos iniciais, busca-se a isonomia entre as classes e propõe o piso salarial de R$ 2.900 e não mais os dois mil reais iniciais. Na ação de retomada do quartel, era visível o desconforto da tropa em ter que agir contra aqueles que reconhecidamente merecem ter suas propostas, mesmo que em parte, atendidas. Se olharmos as imagens o maior ato de truculência partiu de um oficial que jogou spray de pimenta num bombeiro que não oferecia menor perigo. Agora, se os anseios forem atendidos, todos, inclusive ele, serão beneficiados, o que mostra que nem todas as ordens que recebemos, devem ser cumpridas à risca e sim ponderadas junto a aqueles que estão no comando, buscando sempre evitar um embate. A união dos Policiais Militares do Rio de Janeiro aos bombeiros rebelados que contam com o apoio e simpatia da população, diferentemente dos primeiros citados, mostra a legitimidade do movimento e o que está sendo verdadeiramente vandalizada é a dignidade das famílias de homens que dão e deram as suas vidas em prol de salvar outras. É notícia, que profissionais de ensino do estado se somarão ao movimento, o que denota dizer, que diversas classes trabalhistas regidas pelo Estado, estão em total desespero para manutenção de seus lares. Se leitor fizer uma breve reflexão, observará que o escândalo da compra de carros pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, foi o estopim para que se deflagrassem as insatisfações de profissionais de diversos seguimentos, que até então, tentavam negociar de forma tranquila, mas, sequer foram ouvidos. A retomada de negociações ganhou a partir de agora vulto maior, em face da relutância daqueles que poderiam ter sanado os fatos no nascedouro. Ficam registradas as minhas apologias ao grande mestre Augusto dos Anjos, por continuar tão atual.
“Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro da tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”
Enterro da tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”
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